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Luiz Gama recebe título de doutor “honoris causa” póstumo

Cultura
01 Julho 2021

Homenagem é concedida pelo Conselho Universitário da USP para o maior especialista jurídico na libertação de escravos. Gama, que é símbolo da luta contra a escravidão e a exploração da população negra no Brasil, também se destacou como jornalista e escritor

Por Redação

O Conselho Universitário da Universidade de São Paulo (USP), outorgou, no dia 29 de junho, o título de doutor honoris causa póstumo a Luiz Gonzaga Pinto da Gama. A homenagem é concedida “a personalidades nacionais ou estrangeiras que tenham contribuído, de modo notável, para o progresso das ciências, letras ou artes; e aos que tenham beneficiado de forma excepcional a humanidade, o País, ou prestado relevantes serviços à Universidade”, de acordo com o próprio estatuto da USP.

A proposta do título de doutor honoris foi apresentada pelo professor Dennis de Oliveira, do Departamento de Jornalismo e Editoração (CJE) da Escola de Comunicações e Artes (ECA) e do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre o Negro Brasileiro (NEINB-USP), e apoiada pela Comissão de Direitos Humanos (CDH) da ECA.

Abolucionista

O baiano Luiz Gama nasceu livre, mas, aos 10 anos, foi vendido como escravo pelo próprio pai para saldar dívidas de jogo. Já em São Paulo, aos 17 anos, aprendeu a ler e escrever, o que permitiu que ele conquistasse judicialmente a própria liberdade. Aos 20 anos tentou ingressar no curso de Direito da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, mas o fato de ser negro e pobre impediu que fosse aceito formalmente como aluno da instituição. Gama não desistiu. Frequentou os corredores e a biblioteca da faculdade; assistiu a inúmeras aulas como ouvinte e, assim, formou-se advogado provisionado, tornando-se o maior especialista jurídico na libertação de escravos. Gama libertou mais de 500 pessoas escravizadas. Também realizou ações na defesa de pessoas pobres.

Romantismo e imprensa

Em 1859, Gama publicou a obra “Primeiras Trovas Burlescas de Getulino”. Em 1864, fundou o primeiro jornal ilustrado da cidade de São Paulo, o “Diabo Coxo”. Em 1869 criou, com o advogado e jornalista Ruy Barbosa, o jornal “Radical Paulistano”, do Partido Liberal Radical paulista. Gama faleceu em 1882, aos 52 anos, seis anos antes da assinatura da Lei Áurea.

Em 2015 foi nomeado o patrono da abolição da escravidão do Brasil e reconhecido simbolicamente como advogado pela OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). Em 2018, recebeu uma homenagem, com foto e placa, na sede do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo (SJSP).

“Existe um apagamento histórico das personalidades negras. Luiz Gama é um herói, com realizações incríveis, que deveria ser estudado nas escolas. Ele foi jornalista, advogado e lutou pela República. Há um movimento no legislativo paulista para que se troque o nome da rodovia Anhanguera, que foi um bandeirante, por Luiz Gama”, disse a guia de turismo Débora Pinheiro, em entrevista a Juca Guimarães, publicada no site Alma Preta, no dia 21 de junho de 2021.

Fonte:Jornal da USP

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