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Vida e obra de acadêmica da ALCA é retratada em biografia

Cultura
18 Abril 2023
18 Abril 2023

“Hebe: a mais ousada das ousadas” conta a história da professora aposentada e autora de 15 livros Hebe Canuto da Boa-Viagem de Andrade Costa

Por Otávio Augusto Rodrigues

No último domingo, dia 16 de abril, chegou às vitrines “Hebe: a mais ousada das ousadas”. A obra é uma biografia da escritora Hebe Canuto da Boa-Viagem de Andrade Costa, que também é acadêmica, titular da cadeira nº 9 de Letras da Academia de Letras, Ciências e Artes (ALCA), da AFPESP.

O livro, lançado pela Scortecci Editora, junto à Rede de Escritoras Brasileiras (Rebra), retrata a vida da autora, suas contribuições como professora de psicologia e pedagogia na Universidade de São Paulo (USP) e atuação no mundo literário. Além disso, a obra ressalta a luta da biografada pela igualdade de gênero na sociedade.

0418 Imagem interna hebe a mais ousada das ousadas1Da esquerda à direita: Hebe Canuto da Boa-Viagem de Andrade Costa; Elvira Stippe Bastos, coordenadora Social da AFPESP e Edelize de Cassia Cruz, assistente administrativo da Academia de Letras, Ciências e Artes (ALCA), da AFPESP. Foto: acervo pessoal.

“Hebe: a mais ousada das ousadas” foi escrito por Ana Veet Maya, professora, terapeuta e ex-aluna de Hebe, que a acompanhou de perto para coletar informações e depoimentos que ajudaram a compor a história. 

“Fazer esse livro para mim foi surpreendente, uma aventura. É muito prazeroso escrever sobre uma pessoa tão marcante em tua própria vida. A professora Hebe marcou a vida de todas as alunas que ela ensinou. Imagina que na década de 70 ela já era feminista e defendia o poder e a importância da mulher na sociedade”, ressaltou Maya.

0418 Imagem interna hebe a mais ousada das ousadas2Ana Veet Maya participa de evento de lançamento do livro “Hebe: a mais ousada das ousadas” ao lado de Hebe Canuto da Boa-Viagem de Andrade Costa. Foto: iso.castro.

Lúcida, aos 97 anos, a escritora parece escolher, precisamente, cada uma das palavras que saem de sua boca. Com fala serena e um pouco rouca — como ela advertiu desde o início da entrevista exclusiva à Folha do Servidor —, Hebe contou como foi participar do processo de criação do livro e destacou momentos de sua história pessoal. Confira: 

De onde surge a ideia de fazer uma biografia sobre você?

Há muito tempo todo mundo vem pedindo para escrever minha história, e eu não quis escrever porque achei que era narcisismo da minha parte. Então, reuni os dados e dei para minha ex-aluna escrever. Ela usou bastante informação que dei. Na segunda parte ela pôs “Hebe por Hebe” porque é um resumo daquilo que falei para ela.

Quais histórias a senhora conta para ela no livro?

Olha, eu escolhi a profissão de professora de psicologia e pedagogia por acaso, porque a última coisa que eu queria ser era professora. Mas, por questão monetária, resolvi me inscrever no concurso público e fui aprovada. Cheguei à conclusão que eu deveria levar a sério e procurar a graça dessa função. Minhas alunas me ajudaram muito, ao perceberem o esforço que eu fazia para melhorar cada dia mais.

Hoje, acho que foi sorte eu ter feito isso, pois acabei gostando muito da profissão. Mas quando eu me aposentei, eu resolvi partir para outra modalidade, afinal de contas eu achava que meu potencial não se esgotara. Lembrei das coisas que me interessavam quando era jovem e que não segui, pois achava que não era suficientemente produtivo economicamente. Então, comecei a escrever.

Você publicou seu primeiro livro aos 80 anos e já tem 15 títulos desde então. O que a inspira?

Tenho mais dois livros em andamento, quase prontos. Quero chegar aos 100 anos e depois eu não pedirei mais, por que acho que é exagero, mas se eu morresse agora eu morreria contrariada porque acho que tenho ainda muito o que fazer. Acho que a gente não pode pendurar as chuteiras antes do tempo. A gente precisa trabalhar. Quem gosta só de ficar de pijama e chinelo em casa não vive muito, e eu sou uma prova evidente de que continuando a trabalhar, só vamos lucrar. Eu ganhei prêmios em literatura e pintura também.

Por que a escolha do nome “Hebe: a mais ousada das ousadas”?

Eu não sei porque ela [Ana Vecchi Maia] me achou a mais ousada das ousadas. Sempre procurei inovar, então talvez tenha sido por isso. Todo ano eu tentava mudar completamente meu curso porque os alunos às vezes ficavam para trás e era muito chato para eles ouvirem a mesma cantilena sempre.

Você sempre visou inovar na sua vida?

Eu tentei diversas coisas. Acho que isso é sempre uma oportunidade para melhorarmos. A gente não precisa aceitar tudo aquilo que vir na vida da gente. Precisamos reagir e procurar novos caminhos, e foi isso que fiz.

O que significa ser membro da ALCA?

Eu gosto muito de participar da ALCA. Sou associada da AFPESP há 70 anos, desde que comecei a lecionar. Embora eu tenha ficado muito satisfeita quando me candidatei à vaga e fui aprovada, não tenho frequentado muito a academia, pois estou numa cadeira de rodas por conta de uma fratura na perna.

Qual a mensagem mais importante da sua luta pela igualdade de gênero?

Aconselho sempre as mulheres a estudarem. Porque a mulher para vencer na vida é preciso muita coisa. Principalmente fazer o melhor possível e não se conformar com a ação vigente. Antes, a mulher não podia votar, era considerada relativamente incapaz. Era preciso lutar muito para conseguir. E, até hoje, mesmo com a Lei Maria da Penha e do Feminicídio, ainda vemos, diariamente, a abordagem que as mulheres sofrem de seus maridos, ex-maridos, e de todo mundo. Então, ninguém leva totalmente a sério o trabalho da mulher. E é com isso que tenho me preocupado muito, em valorizar o trabalho da mulher.

0418 Imagem interna hebe a mais ousada das ousadas3Capa do livro “Hebe: a mais ousada das ousadas”. Foto: iso.castro.

0418 Imagem interna hebe a mais ousada das ousadas4Hebe Canuto da Boa-Viagem de Andrade Costa recebe a também acadêmica da ALCA, Terezinha Ribeiro de Barros, durante evento de lançamento do livro. Foto: acervo pessoal.

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