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Autismo: verdades e mitos

Opinião
31 Março 2023
04 Abril 2023

Por Djeane Freitas Cardoso

O que é autismo?

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um distúrbio do neurodesenvolvimento que tem como característica déficits sociais e comportamentais que geram no indivíduo necessidade de receber suporte para executar suas tarefas. Essa necessidade de suporte é ampla, sendo dividida em níveis 1, 2 e 3 e é devido a essa abrangência que se usa o termo “espectro”.

Comumente, crianças com transtorno do espectro autista apresentam dificuldade na comunicação e interação social e comportamentos e interesses limitados e estereotipados. Também é costumeiro apresentar questões sensoriais que dificultem uma interação proveitosa com o mundo, impactando também no seu desenvolvimento.

Nível de suporte

É classificado em três níveis:

Nível 1: pouco suporte (popularmente conhecido como nível leve);

Nível 2: necessidade de suporte moderado (em atividades específicas dentro de suas dificuldades e limitações);

Nível 3: necessidade de muito suporte, em todas ou praticamente todas as atividades diárias (popularmente conhecido como nível severo).

Diagnóstico

Quanto antes a criança receber o diagnóstico, melhor. A intervenção precoce é fundamental para melhorar a qualidade de vida de uma criança autista desenvolvendo suas questões cognitivas sociais e de linguagem para que consiga ser cada vez mais independente e tenha autonomia para realizar suas atividades com menos suporte possível.

O diagnóstico de autismo é clínico, ou seja, não há exames de imagem ou laboratório que confirmem o autismo. Esse diagnóstico é realizado a partir de entrevistas com os pais e observação dos comportamentos da criança por uma equipe multidisciplinar, geralmente composta por psicólogos, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, entre outros, além do médico especialista que também costuma solicitar testes genéticos e exames específicos para identificar ou descartar outras síndromes ou problemas de saúde.

O ideal é que esse diagnóstico ocorra entre 2 e 3 anos de idade, mas é possível diagnosticar mais cedo, pois alguns sinais podem surgir com poucos meses de vida.

Sinais e características

É importante ressaltar que cada criança apresenta sinais e características específicas e individuais, mas os mais comuns são:

  • pouco ou nenhum contato visual;
  • interesses restritos: não se interessa por coisas que crianças da sua idade normalmente gostam, mas sim por coisas específicas dentro do que desperta seu interesse, como coisas que giram ou que emitam sons específicos;
  • sensibilidade sensorial: sensibilidade à barulhos, luzes, texturas, cheiros e contato físico;
  • dificuldade em interações sociais: não brincam com outras crianças e pessoas, não gostam de mudar de brincadeiras, não solicitam ajuda, não realizam ações de afeto como abraços e beijos;
  • dificuldade em compreender expressões faciais relacionadas a emoções e sentimentos;
  • comportamentos estereotipados, repetitivos, sem função ou com função apenas de autorregulação;
  • não responder quando chamado pelo nome;
  • dificuldade em lidar com mudanças;
  • dificuldade na comunicação: atraso na fala, dificuldade em iniciar e se manter em uma conversa e de se adaptar em diferentes ambientes podendo agir de maneira inapropriada.

Esses sintomas e características variam de pessoa para pessoa e de acordo com a idade e estímulos aos quais o indivíduo é exposto.

É possível identificar sinais de atraso no desenvolvimento desde os primeiros meses de vida. É importante buscar ajuda profissional a perceber qualquer atraso ou dificuldade, pois a intervenção precoce é importante.

Intervenções

Cada pessoa com autismo tem necessidades diferentes, portanto o tratamento é realizado de maneira individual e de acordo com o nível de suporte e idade.

A intervenção mais conhecida é a ABA (Análise do Comportamento Aplicada), que consiste em programas individualizados destinados a desenvolver habilidades sociais e cognitivas, com estratégias e técnicas que estimulam o passo a passo do aprendizado e reduzem comportamentos inadequados que possam prejudicar o aprendizado de novas habilidades.

Também existem outros modelos de intervenção precoce e de abordagens terapêuticas eficientes para o tratamento do autismo, sendo necessário avaliar qual o melhor tratamento para cada caso.

O tratamento para o autismo é para a vida toda e deve ser realizado por uma equipe multidisciplinar especializada para que seja elaborado um plano de eficiente e individualizado apropriado.

Terapia ABA

ABA é a parte aplicada da análise do comportamento. Suas intervenções têm embasamento científico, resultado de estudos e pesquisas sobre o comportamento humano.

Diante do autismo, o analista do comportamento precisa avaliar os comportamentos e suas funções e, assim, propor programas de ensino individualizados com o objetivo de ampliar o repertório de comportamentos e habilidades verbal, acadêmica e pré-acadêmica, social, de brincar, profissional, de atividade física e artística; além de diminuir comportamentos que dificultem essa aprendizagem (restrição de interesses e motivação, comportamentos auto-estimulatórios, como as estereotipias motoras e vocais, birras, comportamentos agressivos em relação ao outro e a si mesmo).

O maior objetivo da ABA é a generalização, ou seja, a construção de um repertório comportamental que se sustente em diferentes ambientes, com diferentes pessoas, gerando uma inclusão social, escolar e profissional para o autista.

Resumidamente, então, o analista do comportamento tem como responsabilidade analisar esses comportamentos e montar um Programa de Ensino Individualizado (PEI) incluindo intervenções especificas para cada ensino de habilidade. Esses programas de ensino devem conter processos de aprendizagem gradativos e que devem ser aplicados em todos os ambientes que a criança frequenta (casa, escola, terapias, entre outros) com o objetivo de generalizar a aprendizagem dessa habilidade ou comportamento.

Mitos

- Autistas não têm sentimentos e são antissociais

Apesar de terem dificuldade em expressar o que sentem e nem sempre gostarem de contato físico e social, pessoas com autismo gostam de dar e receber carinho, sim. É importante compreender as limitações de cada indivíduo para que essa troca seja eficiente e respeitosa.

- Autistas são agressivos

Pessoas com autismo não são agressivas. Algumas apresentam baixa tolerância para questões específicas dentro de suas limitações, e por causa da dificuldade em lidar com sentimento de frustração podem apresentar comportamento hostil.

- Autismo é doença

Autismo não é uma doença e é por isso também que não tem cura. É uma condição relacionada ao desenvolvimento do cérebro onde as conexões neurológicas são realizadas de maneira diferente.

 0331 Imagem interna Artigo autismo Djeane 

 

Djeane Freitas Cardoso é psicóloga na Unipsico São Paulo, que faz parte da Rede Afinidade.

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