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Historiadora da USP descobre caso de ama de leite escravizada, acusada de assassinar o filho dos patrões por preferir amamentar o próprio bebê

Pesquisa e Tecnologia
05 Agosto 2022

Documentação foi encontrada no Cartório de Terras e Anexos de Taubaté, no estado de SP; processo está no Arquivo Histórico Felix Guisard Filho, de Taubaté  

Por Redação  

A historiadora Maria Helena Pereira Toledo Machado descobriu o processo judicial de Ambrosina, uma brasileira, negra, analfabeta, mãe e escravizada, que pouco antes da Lei Áurea foi acusada de assassinar o filho dos patrões por preferir amamentar seu próprio bebê.

Entre 1886 e 1887, Ambrosina foi incumbida de ser ama de leite de Benedito, o segundo filho do juiz Benedito Fidadelfo de Castro, que havia se mudado recentemente para Taubaté, no estado de São Paulo. Na época havia um mercado nacional constituído de amas de leite escravizadas. Mesmo após a abolição da escravatura no Brasil, em 13 de maio de 1888, mulheres negras, então, livres continuaram a ser exploradas.

Nos autos do processo consta que Ambrosina agia de "má vontade sobre o menino, mostrando-se sempre contrariada, quando se lhe mandava amamentar a criança". Seus patrões também a chamavam de "feiticeira". Na tentativa de amenizar o choro do bebê com uma fralda, Benedito acabou morrendo sufocado e sua ama de leite foi presa por homicídio.

Não há registros sobre a idade, sobrenome, quando ou onde morreu a mucama Ambrosina, mas os documentos encontrados no Cartório de Terras e Anexos de Taubaté (SP) revelam que ela insistia ser inocente: "tanto estimava o menino", dizia, que "seu próprio filho só mamava" tarde da noite, quando o bebê branco já estava saciado e dormindo. No final do processo judicial, Ambrosina foi absolvida por falta de provas.

Ao trazer à tona a história de Ambrosina, Machado – que também é professora e pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade de Reading, no Reino Unido –, evidencia a construção do racismo estrutural e, consequentemente, como as relações entre a elite branca e as empregadas domésticas ainda hoje reproduzem violências de um passado que precisa ser esclarecido e reparado, assim como fez o podcast “A mulher da casa abandonada”, do jornalista Chico Felitti.

Recentemente, o podcast repercutiu na mídia brasileira com o caso de Margarida Bonetti, uma brasileira foragida do FBI, a polícia federal dos EUA, que durante duas décadas submeteu sua empregada doméstica, negra e analfabeta à condições análogas à escravidão nos Estados Unidos.

Bonetti é branca e vem de uma importante família paulistana. Filha do médico Geraldo Vicente de Azevedo e neta de Francisco de Paula Vicente de Azevedo, o Barão de Bocaina. Também é herdeira de um casarão em Higienópolis, um dos bairros mais caros de São Paulo.

Fontes: Tab Uol e Instituto Ibirapitanga

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