Negra, egressa da roça e mãe de dois filhos, Maria Helena Rosa, de 54 anos, estudava no intervalo do trabalho, em Bauru
Por Redação
Durante oito anos, Maria Helena Rosa compôs apenas a equipe de limpeza da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus Bauru, no interior de São Paulo. Mas neste ano o vínculo com a instituição se estreitou. Ela foi aprovada no vestibular e vai iniciar as aulas na Faculdade de Biologia.
Mãe de dois filhos, com 54 anos e negra, a faxineira tentava uma vaga na instituição desde 2017. Para isso, aproveitou os benefícios da própria Unesp, como o PEJA (Projeto Unesp de Educação de Jovens e Adultos), em que monitores dão aulas de conceitos básicos para inscritos, e o cursinho preparatório Primeiro de Maio, projeto de extensão da universidade já voltado ao vestibular.
Em entrevista ao Portal Uol, Maria disse que a trajetória foi bem complicada. "Trabalho na Unesp por uma empresa terceirizada, com horário de trabalho das 6h30 às 15h30, e vi que tinha oportunidade de estudar. Conciliava os três, os dois cursos e o trabalho. Das 15h30 às 17h, fazia o PEJA, e às 19h ia para o cursinho."
A agora caloura do curso de licenciatura em biologia afirma que sempre recebeu apoio de professoras dos cursos preparatórios e que gostava de voltar ao passado, relembrando matérias que viu na juventude. E sempre teve o objetivo de concluir a trajetória com uma aprovação no vestibular. "No início, pensava que queria fazer faculdade de arquitetura, mas aí optei por biologia, porque eu adoro plantas e animais."
Foram quatro anos de emprenho até a aprovação no vestibular 2021, na primeira chamada. Ela disse ao Uol que não estava confiante durante o processo, mas que a notícia foi recebida com comemoração da própria universidade. "Para mim, a Unesp ficou assim uma coisa pequenininha. Pensei: será que tenho bagagem suficiente para passar da segunda fase? E ficava guardando aquilo dentro de mim, preocupada."
O acesso ao resultado foi incentivado pelo chefe do Departamento de Química da Unesp, onde ela trabalha. Fora da universidade, Maria contou com o apoio dos dois filhos, já adultos. A filha da faxineira, que é pedagoga, ajudava a mãe nos estudos do cursinho, com aulas remotas por causa da pandemia. Além do ensino formal, ela também estudava em seu horário de almoço, por 40 minutos, e aos finais de semana.
"Venho da roça, de uma família humilde, e lutei sozinha. Fui mãe e pai para os meus filhos. E espero que quem está lendo procure fazer pelo menos um pouquinho, para expandir o mundo, porque essa rotina de só ficar em casa, é só lava e passa, você tem que ter algum tipo de atividade para ocupar a cabeça", conclui a universitária.
Fonte: Uol