Por Irene Zanette de Castañeda ocupante da cadeira nº 1 de Letras, da Academia de Letras, Ciências e Artes, da AFPESP
Fazer amigos em tempos turbulentos ou em qualquer tempo é uma raridade. Amigo não é um conhecido qualquer. É um ser especial. Mesmo não se vendo, está sempre ligando para saber como estamos. É aquele que está presente nos momentos de alegria e de tristeza, na felicidade e na tragédia. É aquele que gosta de ouvir nossa voz mesmo distante pelo telefone. Não é preciso ter muitos. Basta um que seja verdadeiro.
Tão raro como uma flor de Lótus, símbolo do Buda, assim, é perfeito no encontro consigo mesmo e com o outro. Não nos abandonaremos em momentos difíceis. Basta olhar nos olhos do verdadeiro amigo e nos enxergamos no espelho da nossa alma. Podemos contar com ele em qualquer momento da nossa vida, sorrindo ou derramando lágrimas.
Poucos sabem o valor da amizade. Ela não tem preço. Não dá ouvidos aos que tentam difamar-nos. Acredita nos nossos sentimentos e nas palavras escolhidas para ser nossa companheira de alma. Os laços que nos unem são: autoconfiança, humildade, autenticidade e sabedoria interior.
Amigo é aquele que sabe reconhecer uma falha, uma ideia errada, um ato ou sentimento injusto. É firme nos seus ideais, mas não é inflexível ou tem mente fechada. É autêntico, mas não intolerante. Enfim, diz Kin Hubbard: “Amigo é aquele que sabe tudo a seu respeito e, mesmo assim, ainda gosta de você”.
Por outro lado, o falso amigo é um mestre em manipulação. Ele cria estratégias inteligentes e astutas para se aproximar de nós. Descobrir a verdade sobre o falso amigo é um processo complexo, por conta da qualidade demagógica, diplomática e herege que o mesmo ostenta. É um ator profissional destes hollywoodianos, sempre bem vestidos e perfumados. Ele ostenta um lado exterior sempre perfeito, generoso, prestativo, colaborador, cumpridor de promessas, leal cavalheiro, ético, moralista, castigando aqueles que ele julga cometedores de erros. No entanto, por dentro (sua parte invisível) é podre. De tal maneira, ele trabalhará para o seu sucesso, porém quando não puder alcançá-lo, juntará forças e lutará para lutar contra nós.
Ele finge ter empatia e caminha ao nosso lado e até nos dá bons conselhos, porém, apesar de todas as demonstrações falsamente positivas, nunca gostou de nós. E nós não enxergamos porque ele usa máscara, se escondendo atrás dela, maquinando suas verdadeiras intenções.
O falso amigo quer alguma coisa que nós podemos dar a ele: comercial, social ou sentimental. Ele procura conviver conosco em busca de se aproveitar de nossa amizade para conquistar aquilo que tanto deseja. Ele aprecia o que nós temos e não o que nós somos. Enfim, como diz Valdeir Vieira: “Falsos amigos são como um câncer. Tentam corroer nossa alma, sugar nossa energia tornando nosso coração amargo e nosso dia sem brilho. Demonstram insistentemente querer saber se estamos bem, torcendo para ouvir que não, mas se decepcionam ao ouvir que estamos sempre bem, pois Deus está conosco. Desse tipo de gente devemos manter distância.
Irene Zanette de Castañeda ocupa a cadeira nº 1 de Letras, da Academia de Letras, Ciências e Artes, da AFPESP. É escritora, poeta, doutora em Literatura pela USP-SP e colunista do Jornal Primeira Página de São Carlos/SP.