Por Lucas Silva Barros
A hiperplasia prostática benigna (HPB) é uma doença, como o próprio nome diz, benigna e que cursa com o aumento volumétrico da próstata. Ela pode ou não levar a uma série de sintomas urinários conhecidos como LUTS (Low Urinary Tract Syntoms, em inglês). Os LUTS podem se originar de diversas condições. Quando se trata da HPB, os LUTS classificam-se em obstrutivos e irritativos, ou sintomas de esvaziamento e sintomas de armazenamento, respectivamente.
Esta última nomenclatura é mais aceita atualmente na literatura médica. Os sintomas de armazenamento são aqueles que dificultam o armazenamento da urina pela bexiga – o reservatório natural. Ou seja, causam incômodo e até mesmo impossibilita o homem de armazenar a urina na bexiga pelo tempo que seria considerado normal. Dessa forma, pode ocorrer urgência miccional, aumento da frequência urinária e urge-incontinência (urgência urinária seguida da perda de urina pela incapacidade em manter a continência).
Outras condições associadas, caso estejam presentes, podem exacerbar esses sintomas. Entre elas, o diabetes mal controlado, doenças psiquiátricas como ansiedade e depressão, doenças neurológicas como as sequelas de AVE (acidente vascular encefálico), doença de Parkinson, doenças crônico-degenerativas e traumas raquimedulares; uso exacerbado de bebidas contendo cafeína e outros agentes irritantes do trato urinário.
Os sintomas de esvaziamento atrapalham o escoamento voluntário da urina durante o ato miccional e são ocasionados pelo efeito obstrutivo que a próstata impacta na porção prostática da uretra. Os mais comuns são o jato urinário fino e entrecortado, gotejamento terminal, aumento do tempo de micção (provocado pelo baixo fluxo), nictúria (despertar noturno provocado pelo desejo miccional), sensação de esvaziamento vesical incompleto (a bexiga parece ainda conter urina ao final da micção – na maioria das vezes existe, de fato, um volume residual de urina que pode ser aferido inclusive quantitativamente através de exames complementares).
A exacerbação desses sintomas pode cursar com uma urgência médica conhecida como retenção urinária aguda (RUA). Essa situação se dá quando o indivíduo chega ao ponto de não conseguir realizar a micção, mesmo com desejo imenso de urinar e bexiga repleta. Nessa situação, muitas das vezes a bexiga já apresenta uma musculatura disfuncional devido ao longo tempo trabalhando sob pressão aumentada contra uma via de saída (uretra prostática) obstruída. A RUA é aliviada pelo cateterismo vesical (passagem de um cateter uretral conhecido como sonda vesical, que pode ser de alívio – momentânea ou de demora – provisória até a resolução cirúrgica do quadro). A RUA é uma indicação cirúrgica clássica, quando causada pela HPB.
Tamanho da Próstata versus Sintomas
É importante ressaltar que o tamanho da próstata não tem relação direta com os sintomas apresentados. Próstatas volumosas podem ser completamente assintomáticas e serem descobertas ao acaso em exames de rotina, enquanto próstatas não tão grandes podem gerar sintomas extremamente inconvenientes. A estrutura tridimensional da próstata e o seu padrão de crescimento, independente do tamanho, são as características que definem o processo obstrutivo ao fluxo da urina.
Tratamento Medicamentoso
Existem tratamentos medicamentosos e cirúrgicos diversos para a HPB. Os medicamentos mais usados são os alfa-bloqueadores (tansulosina e doxazosina), e os inibidores da enzima 5-alfa-redutase (finasterida e dutasterida).
Os alfa-bloqueadores atuam no relaxamento da musculatura lisa do colo vesical e da próstata e facilitam a micção por reduzir a pressão de esvaziamento vesical favorecendo o fluxo urinário. Já a finasterida e a dutasterida atuam a longo prazo reduzindo o volume da próstata. Isso se deve ao seu mecanismo de ação de inibição da conversão de testosterona em di-hidrotestosterona – metabólito ativo do hormônio masculino responsável pelo crescimento da próstata.
A terapia medicamentosa alivia a maioria dos sintomas em homens com LUTS leves e moderados. Porém, nos casos de LUTS graves ou situações nas quais a doença já evoluiu a ponto de gerar complicações, a terapia cirúrgica se impõe.
Tratamento Cirúrgico
A cirurgia para resolução da HPB, independente da técnica utilizada, visa a desobstrução do trato urinário pela remoção do tecido excedente causador da obstrução uretral ao nível da próstata. Cirurgias consagradas no tempo são a prostatectomia simples (retirada de todo o adenoma prostático) e a ressecção endoscópica da próstata (RTU de próstata).
A prostatectomia simples pode ser realizada por via aberta, laparoscópica ou robótica. Já a RTU de próstata é uma cirurgia endoscópica, portanto, realizada por orifício natural. No caso, a uretra. Nesta técnica lançamos mão de uma alça de ressecção conectada a energia mono ou bipolar em equipamento próprio para tal, denominado ressectoscópio, para ressecar o tecido prostático em camadas concêntricas partindo do interior da uretra prostática até a sua cápsula (parte externa).
A cirurgia robótica surgiu nos últimos anos e, atualmente, tem se difundido devido às suas numerosas vantagens. O ponto alto dessa tecnologia é trazer a miniaturização dos acessos cirúrgicos e aumento da precisão cirúrgica devido à visão tridimensional em alta definição e aos movimentos precisos dos braços robóticos. Dessa forma, a cirurgia robótica proporciona menor número de complicações cirúrgicas e melhora considerável da recuperação pós-operatória, alcançando os melhores resultados.
A cirurgia laparoscópica é uma tecnologia minimamente invasiva que transita entre a cirurgia aberta e a cirurgia robótica, apresentando algumas vantagens da cirurgia robótica, porém em menor escala.
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Lucas Silva Barros é médico urologista do Ambulatório Médico AFPESP. Possui especialização em uro-oncologia e cirurgia urológica minimamente invasiva, incluindo certificação em cirurgia robótica pela Strattner. É fellowship em uro-oncologia pelo Instituto do Câncer Dr. Arnaldo Vieira de Carvalho (São Paulo/SP). Fez residência médica em urologia pelo Hospital das Clínicas da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM). Também tem formação como cirurgião geral pelo Hospital Estadual de Urgências Governador Otávio Lage de Siqueira. Cursou medicina pela Universidade Professor Edson Antônio Velano (Unifenas) e farmácia pela Universidade Federal de Goiás. |




