Por Luciana Couto Lapetina
O envelhecimento populacional é um fenômeno global que traz consigo um aumento na incidência de condições associadas à fragilidade óssea, sendo a fratura de fêmur proximal uma das mais relevantes do ponto de vista clínico, social e econômico. Este tipo de fratura é considerado um marcador importante de morbimortalidade entre idosos, sobretudo em virtude de suas complicações e do impacto funcional prolongado que pode causar.
A fratura do fêmur proximal, que compreende a região do colo femoral e do trocânter maior e menor, ocorre com maior frequência em indivíduos com osteoporose e histórico de quedas, fatores comuns na terceira idade. Estima-se que a maioria desses eventos ocorra em ambientes domésticos, principalmente em decorrência de quedas da própria altura. Além da fragilidade óssea, a perda da acuidade visual, alterações no equilíbrio, uso de medicações sedativas e a presença de comorbidades crônicas contribuem significativamente para a ocorrência desse tipo de trauma.
As consequências da fratura de fêmur proximal vão além do evento agudo. Muitos pacientes experimentam perda de mobilidade, dependência funcional e, em alguns casos, não retornam ao seu nível prévio de independência. A hospitalização prolongada, o risco de complicações como tromboembolismo, infecções e úlceras por pressão também são preocupações frequentes. Além disso, a taxa de mortalidade no primeiro ano após o episódio é consideravelmente elevada, variando entre 20% e 30%, especialmente em pacientes mais frágeis ou com manejo clínico inadequado.
O tratamento da fratura geralmente envolve procedimento cirúrgico, seja por meio de fixação interna ou artroplastia, seguido por um processo de reabilitação intensiva. A decisão terapêutica deve considerar a condição clínica geral do paciente, suas expectativas funcionais e a presença de comorbidades. A atuação multiprofissional é essencial nesse contexto: médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, nutricionistas e assistentes sociais desempenham papéis fundamentais no processo de recuperação e readaptação do idoso.
A prevenção, no entanto, permanece como a melhor estratégia. Programas voltados à promoção da saúde óssea, controle da osteoporose, revisão medicamentosa, adequações ambientais e educação sobre prevenção de quedas são medidas eficazes e de baixo custo. A atenção primária à saúde pode e deve ser um ponto central nesse cuidado, identificando precocemente os fatores de risco e orientando intervenções individualizadas.
Em suma, a fratura de fêmur proximal na população idosa representa um evento crítico, com desdobramentos complexos e multifatoriais. O enfrentamento desse desafio exige uma abordagem abrangente e integrada, que envolva desde ações preventivas até estratégias de reabilitação e reinserção social. Garantir o cuidado qualificado e humanizado a esses pacientes é, portanto, um compromisso fundamental para os profissionais de saúde diante do envelhecimento progressivo da população.
Luciana Couto Lapetina é médica clínica geral no Ambulatório Médico da AFPESP; graduada em medicina pela Universidade Nove de Julho - campus Osasco.